domingo, 3 de fevereiro de 2008

Grandes enredos, temas campeões.

É carnaval. Então só nos resta falar desse tema. E não é possível falar de carnaval sem citar o desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Apesar do carnaval ser uma festa de felicidade e descontração, cada vez mais os enredos têm retratado coisas sérias, que muitas vezes passam despercebidos. (Melhor assim, senão podem ser censurados.) Muitas críticas, tão comuns ao nosso cotidiano e que nos passam despercebidas. Vamos refrescar a memória:

Um tema muito recorrente é o da pobreza. O exemplo mais marcante, o da Beija-Flor de Nilópolis, em 1989 com "Ratos e Urubus, larguem minha fantasia" tinha o objetivo de denunciar a indiferença dos ricos contra a pobreza. Em 2000, a Estação Primeira de Mangueira entra na avenida com o enredo "Dom Obá II, Rei dos Esfarrapados, Príncipe do Povo" trazendo versos fortes no samba: "No rio de lá / luxo e riqueza / no rio de cá / lixo e pobreza". Em 2003, a Beija-Flor conquista o título com um lindo samba, apresentando o enredo "O povo conta a sua história: 'saco vazio não pára em pé'. A mão que faz a guerra faz a paz." que trazia até um carro com uma imagem do presidente Lula como esperança de mudança (foto ao lado). Bom, restou a esperança.



No mesmo ano, a Mocidade Independente de Padre Miguel entrou no Sambódromo apresentando o enredo "Para sempre no seu coração - Carnaval da doação", falando sobre doação de órgãos. Um carro com um coração gigantesco (foto ao lado) foi o abre-alas. Não ganhou, mas a mensagem foi campeã. No ano seguinte, a verde-e-branco seguiu a linha dos enredos politicamente corretos e apresentou "Não Corra, Não Mate , Não Morra - Pegue Carona com a Mocidade! Educação no Trânsito". Mais um show de mensagem na avenida. Bateria nota 10, enredo nota 1000.


Em 2002, a Mangueira levantou o título com o enredo "Brazil com 'z' é pra cabra da peste. Brasil com 's' é a nação do Nordeste". O enredo falava do Nordeste brasileiro, mas trazia uma mensagem muito clara ao afirmar do "Brazil com z". Crítica, velada até certo ponto, ao processo de perda de identidade do povo brasileiro. Aos brasileiros que idolatram mais tudo que vêm de outros países do que aquilo que provém do território nacional. Obviamente, não somos ufanistas e sabemos que aqui não é o melhor lugar do mundo, mas também não é necessário idolatrar àqueles que só querem nos ver por baixo e se acham donos do mundo. Quanto a esses brasileiros, o enredo da Mangueira diz mais que tudo: cabras da peste.

Sim, o carnaval é uma festa profana e cultua a alegria. Mas, já que é visto por milhões de pessoas, deve sim passar uma mensagem que atente para os grandes problemas nacionais. E ultimamente, quando lhes é permitido, os carnavalescos têm feito isso. Claro que existiram outros grandes enredos, que muitas vezes não levantaram o título do carnaval, mas foram campeões na hora de passar sua mensagem. Lembramos apenas alguns. Pergunte aos componentes da Mocidade se ficaram tristes em poder falar de doação e educação no trânsito. Triste fica aquele que é obrigado a cobrir partes de seu carro alegórico com pano preto.

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