domingo, 24 de fevereiro de 2008

Imortais pela morte

"Aos nossos pais, irmãos e familiares e a todos que ajudaram na realização deste trabalho.
Ao pessoal do avião (que serviu um rango da hora na nossa viagem pros USA); ao Santos Dumont (que inventou o avião, senão a gente ainda tava indo mixar o disco, a pé); ao Gonzales (mexicano clandestino que arrumava nossos quartos no hotel); ao pessoal do estúdio "the Enterprise" (que ria das nossas piadas mesmo sem entender porra nenhuma); ao Charles Miller (por ter trazido o futebol pro Brasil); ao Chaves e Chapolin; ao Billy, Pluck, Mike, Proteus, Dick, Giully e Fluke (nossos cachorros); ao Ultraman (que matou aquele monstro horrível); à tia da escola que dava canjica na hora do recreio; ao pessoal da EMI, que nos encontrou em cima duma ponte com uma bigorna amarrada no pescoço, e num gesto de piedade acolheu nosso trabalho (valeu mesmo, galera!!!)"

Quem não lembra dessa capa e desse agradecimento no disco (sim, eles ainda lançaram o álbum em vinil) ou no CD dos Mamonas Assassinas? E foi essa irreverência e essa alegria que marcaram a trajetória desse grupo de sucesso na música brasileira. A sua música cheia de gozações os imortalizou. Não, não foi isso. Ironicamente, o que imortalizou os Mamonas foi a sua morte.
Antes de mais nada, declaro que sou fã incondicional dos Mamonas. Mas a verdade é que o acidente que matou Dinho, Júlio Rasec, Bento Hinoto e os irmãos Sérgio e Samuel Reoli no dia 2 de março do ano de 1996 manteve na cabeça de todos nós o status de grande sucesso que eles viviam na época.
Ora, músicas com letras irreverentes como Pelados em Santos, Robocop Gay, Lá Vem o Alemão e Vira-vira, historicamente fazem sucesso em momentos que o país vive tranqüilidade. Em momentos de crise, as pessoas preferem letras que tenham conteúdo mais sério, de crítica inclusive. Sabemos também que o país enfrentou uma crise econômica de desvalorização do Real nos anos de 1997 e 1998, o que, provavelmente, diminuíria a esfera de sucesso do grupo.
Tenho um colega que afirma: "Se os Mamonas não tivessem morrido, o Dinho já seria presidente do Brasil." Concordo, porque o povo brasileiro adora eleger esses ídolos decadentes, vide Frank Aguiar, Clodovil e tantos outros. Mas não da mesma forma que ele pensa. Dinho não seria uma estrela da música até hoje. Teria, talvez, até caído no esquecimento. Talvez, sobrevivesse, mas fosse no máximo mais um Latino, que faz um sucesso, some, e séculos depois reaparece.
Já que a morte os imortalizou, que bom. Ainda posso cantar por muito tempo e sonhar com a Brasília Amarela.

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