segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Novos Dias

Os novos dias trazem um gozo inquieto
-ardência viva de animação!
E é sempre um fogo queimando indiscreto
a volúpia doce dessa sensação...

A luxúria é o vício inebriante
dos que bebem e caem ao chão:
corpos e formas são fumaça pairante
(delírio, vaidade, repetição!)

vem sempre um desejo de insanidade
-louco tormento de inquietação!
Os dias são a tontura da idade
que a vida afoga em tesão!

A noite é a chama que aquece
a pele ardendo paixão!
De lábios, braços e mãos o branco escurece
a cor púrpura da devassidão

Os novos dias são de treva
insolidez tão pura de ilusão...
os olhos não cabem onde a luz os leva:
é tudo irrealidade, sonho, imperfeição...


Mistério dos mundos

Os que são agora o sono das gentes
elevam-se a nós em pálidas fumaças:
são apenas tristes penitentes
vultos perdidos em muitas vidraças!

São passantes aéreos de mundos distantes
erguidos em épocas de remota descrição...
e a inconstância sonolenta de antigos andantes
persegue os acordados em louca aparição

traçam seus caminhos e marcam suas dores
nascem suspirando e se perdem em pranto
e deixam para os outros negras flores
quando embalam o mundo em fúnebre canto...

uma linha tênue se instala perdida
sobre os que veem entre a nebulosidade
-e um mistério perpassa a dor vivida
para nos levar além de qualquer localidade

a morte é ausência e a ausência é constante
constante de absoluto adormecimento:
pois o que nos faz nos destroi a todo instante
quando se percebe que o mundo é breve e a vida, vento...


by Laís Scodeler

sábado, 25 de julho de 2009

Cel. Sarney

45 anos. Desde 1964, o país conviveu com grupos extremamente opostos no poder. A esquerda de João Goulart, a extrema direita dos governos militares, o neoliberalismo de Fernando Henrique e o assistencialismo de Lula. Mas, uma coisa coexistiu durante todos esses 45 anos: o apoio de José Sarney a quem quer que esteja no governo. As denúncias de nepotismo são somente a ponta de um iceberg, que é a vida política do Senador Sarney.
Sarney é, na verdade, um remanescente dos coronéis da República Velha. Com a morte de ACM, talvez seja o último presente no Senado Nacional. Manda e desmanda no estado do Maranhão. Controla até a mídia local, sendo dono das principais emissoras de TV do estado. Sua filha, Roseana, é a atual governadora.
Apesar de mandar e desmandar no Maranhão, José Sarney é senador pelo Amapá. Sim, embora a relação dele com o Amapá seja tão íntima quanto a que tenho com Barack Obama.
45 anos sempre ao lado da situação. Se ninguém nunca entendeu, hoje é capaz de fazê-lo: Sarney precisou empregar filhos, netos, namorados de netas durante todo esse tempo. Claro, sem concurso público, e muitas vezes em funções desnecessárias.
Sarney deve renunciar à presidência do Senado. Não para que evitê-mo-lo ou para evitar seus atos (secretos e publicados), esses continuarão. Afinal, acontença o que acontecer, ele continuará apoiando quem estiver no poder e estará no poder. Sua renúncia à presidência da Casa deve servir para a moralização do Senado Brasileiro, para que se evitem episódios lamentáveis, como as declarações infelizes do presidente Lula chamando os senadores de "pizzaiolos" e a publicação de uma revista inglesa chamando o Senado Brasileiro de uma "Casa de Horrores". Não estão errados, embora sejam ofensivos.
Sarney não precisa de todos esses ataques (justos, diga-se de passagem). Como homem público, sábio, (é membro da Academia Brasileira de Letras), deveria renunciar. Em no máximo 2 anos, estaria de volta aos holofotes, como já fez várias vezes ao longo desses 45 anos. Conseguiria sugar o que quisesse fora da presidência do Senado. Infelizmente, seria assim, embora não queiramos acreditar.
Se seu sucessor será um problema também, ainda saberemos. Entretanto, arrumamos a Casa resolvendo um problema de cada vez.

sábado, 30 de maio de 2009

existencialismo

Quando nascemos existencialistas, nascemos diferentes. Nascemos carregados de questionamentos e de perguntas meio sem perspectiva de resposta. Também não queremos que nos respondam tudo, afinal, é justamente essa ausência de solução que nos faz sermos o que somos: questionadores. É esta forma de vida que nos faz estranhamente complicados, estranhamente distantes, incontentáveis. Não é que façamos questão de nos distanciar, é que acabamos sendo distanciados. Não sabem lidar conosco. Nos confundem, nos julgam mal.
Nascemos um pouco mortos, um pouco adormecidos. Depois, com o passar dos dias, morremos a parte viva que tinha vingado. Sim. Morremos. Não matamos. Morrer e matar são duas coisas bem diversas. Todos os dias nos perpassa uma melancolia insistente que transborda, vai além de nós mesmos. Somos existencialistas e não carentes. O existencialismo engole a carência do mesmo modo que a Literatura engole uma simples palavra, a não ser que essa simples palavra seja Literatura, aí, temos uma situação de igualdade.
Uns dizem que todo ser humano é um pouco existencialista. Pode ser. O que muda, então, é a amplitude, a projeção que isso tem na vida de cada um. Alguns nem têm essa projeção, esta forma de macrocosmo. Os que têm sabem bem como é. E o nosso objeto projetado não é maiúsculo, do tipo Existencialismo com nome definido: Sartre, Camus. Muito prazer. Não...nós somos minúsculos: existencialismo. Sem nome forte, sem rosto, sem filosofia bem discutida. Somos filosofados porque não nos compreendem, ainda que saibam bem definir aquele outro, o Existencialismo.
Conosco as coisas são um pouco mais escuras, mais indefiníveis mesmo. Todos os dias nos encaramos, nos olhamos no espelho e tudo é bem incerto. Não temos pretensão de certeza nem intenção de acertar. Temos somente uma coisa: aquela condição de vida, aquela dorzinha que veio junto com o primeiro suspiro, o primeiro abrir de olhos, a inspiração. De que nos valeria a vida sem isso? Sem esta (in)capacidade de explicar muito bem o que nos torna amórficos, voláteis, imprevisíveis...sem este sopro de coisa nenhuma que nos acorda mais cedo sempre...somos existencialistas, somos doloridos.
Não buscamos compreensão ou ajuda, já que não temos, de fato, um problema. Temos apenas uma condição de existência que faz com que sejamos mais tristes ou menos explícitos. Às vezes, não estamos tristes ou infelizes, estamos em silêncio, questionando o porquê de estarmos assim, tão quietos, tão compenetrados em nós mesmos. O silêncio é uma coisa importante porque colabora com a produção do que nos move: questionamento. A solidão vem junto com o silêncio e isso não nos incomoda de todo. Somos existencialistas, precisamos de tempo e espaço para entender isso. Quando entendemos e aceitamos quem somos e porque somos, descobrimos maneiras de amenizar nossos reais problemas.
Somos fragmentados não porque queremos, mas porque também fragmentamos. Somos inconstantes porque não nos cabe a condição da constância imposta, socializada. Preferimos ser o que somos, ainda que isso nos cause um certo incômodo. Estamos acostumados com as tristezas que nos acometem, que nos intrigam. Isso não nos faz menos do que somos, pelo contrário. Define nossa condição ainda mais. Não lutamos contra nós mesmos, nem contra nada de forma direta. De início, o que nos preocupa é questionar, as ações vêm com o tempo, e nós não. O tempo não nos preocupa, nos acalma, nos faz como somos, como existimos e, bem ou mal, faz com que sejamos sensíveis demais no modo como percebemos esta coisa, esta incerteza que chamamos de vida. Não somos nada, somos o que somos. Somos apenas existencialistas.


by Laís Scodeler

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Os Cinzentos

Nós queríamos ser sombrios e sinuosos um dia apenas. Ser sombrio e sinuoso todos os dias incomoda. Às vezes a gente se pega imaginado como a vida seria diferente se fossemos menos sombrios, menos sinuosos. Não dá mesmo para saber se conseguiríamos. Ser sombrio e sinuoso é algo que marca, que escurece, que engole. A gente se perde sendo sombrio. Eu me perdi. As coisas se escondem da gente quando tentamos encontra-las e se escancaram quando não queremos vê-las de modo algum. Assim, passamos a confundir o que é para ser visto e o que não é. Vemos coisas onde não tem e cegamos quando devíamos ter visto. Mas, é tudo cinza, tudo sombra. Não dá mesmo para diferenciar uma coisa da outra, posto que, sendo sombrio e sinuoso a gente não diferencia luz e treva, só há, de fato, um meio termo estranho que nos rouba os extremos. Parece que ninguém nos percebe, que ninguém nos identifica verdadeiramente. Nos tornamos, também, um meio termo. Nem bonitos, nem feios: normais.
Conosco, anda sempre uma melancolia, uma tristeza escondida no fundo do peito. Somos cinzentos. Temos pensamentos cinzentos. Sentimos de forma cinzenta. O nosso sofrimento é cinza, mas as nossas dores não se esfumaçam, se solidificam. Não somos sólidos. Somos cinzas. De repente, nos damos conta de que não há um espaço para nós entre as pessoas que sentem os extremos, que notam sua existência. Então, ou nos escondemos ou nos disfarçamos. Quando nos escondemos, não somos questionados. Quando nos disfarçamos, somos descobertos. Nosso disfarce nunca dura muito, porque não lidamos bem com extremos e opostos, somos cinzentos.
O que nos move não é nenhuma certeza de Sol, mas uma indiferença em relação ao nublado. Nem claro, nem escuro. Sombrio. Pouco e muito, tanto faz. Não é isso que importa. Importa o que não se esfumaça, o que não vira vento e o que não se transforma em cinza. Se um moço do Sol se apaixona por uma moça da chuva, com certeza, ele sofre. O oposto não ocorre. Moças da chuva não se apaixonam por moços do Sol. Moças da chuva não se apaixonam, se conformam em não virar fumaça. A gente vira fumaça quando fica só. Quando não tem nem Sol nem Lua e, menos ainda, chuva.
Somos cinzentos não por escolha, mas por condição de vida. Não somos grandes o suficiente para lutar contra as cinzas porque não conseguimos captura-las, elas se vão rápido demais, e nós continuamos aqui. Sombriamente nos questionamos, de vez em quando, mas nossas perguntas também se esfumaçam. Vivemos uma efemeridade de dúvidas para tentarmos nos solidificar...
Não somos preocupados, somos passantes. Não necessariamente vivemos. A vida é vida quando é vivida, não quando apenas se passa por ela. Não vivemos, passamos. Não rimos, não choramos, somos. Erguemos as sobrancelhas e continuamos o trajeto. Também não olhamos para trás. Não é que o medo nos aflige, é que não temos medo, nem temos nada, também. Somos cinzentos e tentamos não esfumaçar, mas nem sempre conseguimos. Nunca é fácil permanecer sólido. Nunca é fácil deixar de ser sombra e cinza. Ser sombra e cinza acomoda...


by Laís Scodeler

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Idas, vindas, partidas e reencontros

Quando nos separamos de uma pessoa querida, sentimos que alguma coisa se quebrou, se partiu. Sendo por motivo de morte ou não, sabemos o quão difícil é romper os laços que adquirimos ao longo de uma convivência intensa e significativa. É doloroso e, por vezes insuportável, saber que alguém que você gosta muito foi ou vai embora, mesmo que saibamos que nos reencontraremos. Dá uma raiva tremenda quando as pessoas decidem partir! A gente se pergunta o porquê, mas não podemos ter todas as respostas, e, por isso, continuamos perguntando!
No momento da partida, dá uma vontade de dizer: “Quem foi que disse que você pode ir?”. Só que nem sempre podemos interferir em tudo. Então, com o coração apertado, a gente segura o grito e diz, quando pode: “Tchau! Vai com Deus e volta logo!”.
Os reencontros fazem com que aprendamos a dar valor na presença daqueles que gostamos, já que daqui a pouco eles terão de voltar seja lá para onde, e nós, ficaremos com aquela sensação de ter uma parte quebrada, partida, novamente. E adivinha o que nos fará alegres de novo? A esperança de um novo reencontro!
As idas, vindas, partidas e os reencontros fazem com que a nossa vida se encha de luz e de novidade! Ao mesmo tempo em que pensamos em alguém que está longe, há um outro alguém pensando em nós! Legal, né?



by Laís Scodeler

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A coisa e a forma certas.

"Quando médicos e enfermeiros não podem fazer a coisa certa.

No mês passado, uma médica que trabalha como consultor de ética conversava comigo sobre uma preocupação crescente no hospital em que trabalha. Médicos e enfermeiros se sentem aprisionados, de acordo com ela, pelas concorrentes demandas de administradores, companhias de seguro, advogados, familiares dos pacientes e qualquer outro. Eles são forçados a um compromisso sobre o que eles acham que é certo para os pacientes.

Ela chamou o problema de 'aflição moral'."

Traduzido da Edição Online do The New York Times
Publicado por Pauline W. Chen, M.D. em 5 de fevereiro de 2009.

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Mais que um problema de médicos e enfermeiros, a aflição moral é um problema constante em nossa vida. Quantas vezes temos que fazer coisas que não queremos fazer, ou que vão contra os nossos pensamentos em nossos dias. Os percalços de nosso emprego, de nossa convivência com vizinhos e dentro da própria casa. Temos que conviver com isso.
Mas, conforme diz a reportagem, gostaria de ressaltar isso na vida dos médicos. Os erros médicos crescem linearmente ao longo tempo. Os processos por erros médicos tem crescido exponencialmente. As vezes é difícil entender o porquê de tudo isso. Acho que as pessoas vêem uma forma de ganhar dinheiro. Muitas vezes impulsionadas por advogados interessados em comissões no resultado de processos que podem render milhares ou até milhões.
Muitos dizem que os médicos se acham deuses. Quanto a alguns, sou obrigado a concordar. Mas os culpados são todas as outras pessoas, que esperam que eles sejam deuses. Não se acredita mais que não é possível salvar a vida de uma pessoa. O médico tem sido obrigado a curar até doenças para as quais não foi descoberta a cura.
Isso, quando não ocorre algo que infelizmente acontece: o paciente ou familiares dele interferem no tratamento prejudicando a cura ou a sobrevida do paciente. O médico está sempre errado.
Falta as pessoas compreenderem que o médico não é um deus. Ele é um ser humano, carregado de emoções, sentimentos e principalmente limitações. É necessário compreender também que erros acontecem, faz-se necessário somente saber se os erros vieram da natureza humana, ou da negligência.
Temos que aprender que a nossa aflição moral é a mesma dos médicos. Quem sabe se pararmos de pensar que eles são deuses que tem a obrigação de nos salvar eles não param também de pensar que o são?

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Recomeço

Muitos estão voltando a sua rotina normal hoje. Seja por motivo de trabalho ou estudo, grande parte das pessoas retorna para mais um início, mesmo que, para quase todos, seria realmente interessante aumentar o curto período de férias. Recomeçar é sempre algo complicado, ainda que se esteja querendo fazê-lo. Não é nada simples, por exemplo, mudar de escola ou começar a trabalhar em um novo emprego. Também não é assim tão comum voltar ao lugar de sempre, justamente porque passamos um período significativo afastados da nossa rotina, e, quando voltamos, não somos mais como antes. Se houve ou não viagem, tudo bem. O fato é que, mudamos todos os dias e só a ideia de rever as coisas nos torna, de alguma forma, diferentes. Podemos estar mais ou menos receptivos, podemos querer mais ou menos para o novo ano, podemos ter milhões de planos para aproveitar o tempo ou podemos, às vezes porque ainda não descobrimos de verdade o que queremos poder, estar conformados com o estilo de vida que levamos. Ou melhor, que trazemos conosco e que repartimos com os que nos cercam. No final de tudo, o mais importante é estar consciente de que um retorno é sempre um retorno. Sim. Pode ser um novo início literalmente falando e, também, pode ser um recomeçar, um reciclar de pensamentos que faz parte de cada nova vivência. Lembre-se, caso esteja de volta, que o que você fizer ou o que os outros farão do seu retorno depende, expressivamente, de como você estará recomeçando. Aproveite!



by Laís Scodeler