sábado, 22 de março de 2008

Há muito tempo atrás, era mais ou menos assim...

Escrevi esse texto há aproximadamente três anos atrás.

Você luta para ganhar o mundo. E um dia você pensa que ele é seu. Você tem amigos, família e tudo que precisa para uma vida tranqüila. Seu negócio vai de vento em popa. Você está muito ocupado para poder olhar para fora.

Horário do café. Você olha pela janela e vê lá embaixo, carros passando, flores das árvores balançando e uma chuva caindo. E lá embaixo, coberto por um cobertor surrado está um simples mendigo se abrigando.

E quem é esse mendigo? Um rosto a mais em toda a multidão que corre apressada e desvia subitamente quando o vê. Você também desviaria, afinal de contas você não sabe o quão perigoso ele pode ser.

E assim as horas passam, você retorna à sua vida dentro do escritório, até o fim do dia. E então você volta à janela. A chuva cessou, as pessoas que transitam na rua mudaram, mas ele, o mendigo continua lá. Impávido a toda aquela movimentação.

De repente, você sente um súbito interesse por ele. Por que ele vive nessas condições? Por que não tem uma casa? Será que ele faz uso de drogas?

Mas pega seu casaco e retorna para sua casa. Encontra uma mulher que te ama, e filhos correndo pela casa. Dorme em seu colchão. Sente-se feliz e aconchegado, mas não se esquece do mendigo que deve estar com frio lá fora nesse momento.

Acorda no dia seguinte, mais um dia de trabalho. Enquanto toma café, pega o jornal e se depara com uma notícia que o deixa estarrecido. O mendigo, por quem tanto se interessou ontem havia sido assassinado nas ruas ontem. Um turbilhão de idéias e imagens atinge sua cabeça e enquanto isso o mendigo está lá, provavelmente sendo preparado para ser enterrado como um indigente.

Vai para o trabalho e chega à mesma janela. Ele não está lá. Será que ele deveria ter ajudado o mendigo ontem? Será que não devia pelo menos ter dado algum dinheiro a ele?

Agora já é tarde. O mendigo se foi. Mais um morto. Poderia ser você? Não, afinal de contas você não vive na rua. Mas porque você não vive na rua e certas pessoas sim? Por quê?

E família? Será que ele tinha uma família? Mulher e filhos que o amavam? Você pensa na sua mulher e nos seus filhos e em todo o conforto que eles possuem. Definitivamente os familiares do mendigo não seriam como os seus.

O telefone toca. Hora de voltar ao trabalho e esquecer aquele infeliz por alguns minutos. Isso. Infeliz. Afinal de contas, que felicidade pode ter um homem que vive nas ruas?

E essa palavra fica circulando na sua mente durante horas. Felicidade. Será que ele realmente não podia ser feliz? Será que você é feliz? Claro que sou, tenho tudo que preciso e com conforto.

Mas afinal de contas tudo isso passa. Você está abrigado aqui. Só chove lá fora, que te importa?

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