Esses dias, conversando com um velhinho simpático, pude perceber que o tempo passa de um jeito misterioso e único para cada um. A esposa dele desencarnou há uns três meses, mais ou menos, e ele, obviamente, ainda não superou a partida da companheira de longos anos. Estávamos sentados à mesa, batendo papo e rindo bastante, quando, como que tomado por uma melancolia intensa de alma quase sozinha, o senhor iniciou um discurso de retrospectiva, a respeito de seu casamento e de como havia sido feliz. Nós, os presentes, atentos ao exemplo de experiência, ouvimos com carinho o seguinte: “Em toda a minha vida eu só amei duas mulheres: a minha mãe e a minha mulher...”. Em seguida, ele abaixou a cabeça, pôs o queixo como que contra o peito e as lágrimas, sinceras e silenciosas, começaram a cair de seus olhinhos azuis...uma velhinha que estava ao nosso lado perdeu-se, durante o tempo daquele choro emocionado, em um silêncio consciente. Eu, observando aquelas duas figuras, acabei ficando meio sem chão...
O casamento do velhinho durou cinqüenta e dois anos e ele, pelo que notei, nunca se arrependeu de ter unido a sua vida com a da esposa. Quando ela adoeceu de vez, todos nós fomos testemunhas da tristeza do senhorzinho. Alguns, depois da morte da senhora, diziam: “Foi melhor assim...antes isso do que ela ficar presa a uma cama, sofrendo...”. Não posso julgar a veracidade dessa sentença, mas posso afirmar que, para aquele marido, a presença da companheira valeria de qualquer forma. E, claro, quando a morte veio, levou consigo uma vida toda construída a dois. Foram mais de cinqüenta anos, não ciqüenta minutos...e todos aqueles anos estavam ali, conosco, naquele choro sentido.
Quanto tempo dura, realmente, um instante?
by Laís Scodeler
terça-feira, 3 de junho de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
q bonito laís!!!!!!!!!!!!
sucinto mas emocionante!!!!!
e não é cheio de dramas!!!
eh puro e sincero...
gostei
Parabéns Laís!!! Ótimo texto, com uma ótima motivação. Você realmente tem uma capacidade incomum de captar nuanças incríveis nas situação que só sensibilizam pessoas sensíveis e talentosas como vc!!! Quanto tempo dura um instante? O tempo é relativo ao sujeito, mas cada instante de um texto seu é uma infinitude de prazer literário.
Poxa Lais!!
q lindo!!!!
muito bonito mesmo!!
de se emocionar!
com certeza um dos melhores q vc ja escreveu!1
fantastico!!!!
Eu estou sem palavras...
Não tenho como descrever o que eu senti ao ler...
Me lembrei de uma situação parecida que eu vivi... nossa! É de tirar o fôlego...
Está de parabéns, Laís!!
adoro sua versatilidade... parabéns :)
ótimo texto... tocante, enxuto, inspirador
beijos
Postar um comentário