sábado, 2 de agosto de 2008

Nuvens

O Chicão escolheu a minha palavra! "Nuvens"


As crianças nascem muito antes do que pensamos. Muitos pais olham para o céu e desejam, com força, um filho. Aí já temos, ainda que não fisicamente, um nascimento, visto que desejos também podem criar. Para a maioria, não importa o sexo do bebê, e sim que ele nasça com saúde, mas todos nascem, cada um de um jeito, predestinados a alguma coisa.
Quando os pais de uma menina fraquinha e diferente olhavam para as nuvens, pediam o que todos os outros pedem e tinham desejos praticamente comuns aos de inúmeras pessoas que estão constituindo uma família. No entanto, nem tudo o que desejamos vira fato consumado e nem todas as nossas preces são preces propriamente ditas.
“Essa menina é estranha...”, diziam os familiares ao olhá-la embrulhada nos panos que a protegiam do frio, mas que não a guardavam dos julgamentos dolorosos e das mesuras tortas. “Parece que os olhos dela não são normais...”, arriscavam outros, curiosos com o que viam. Os pais, tristes e infelizes com as supostas preces não atendidas, repetiam, envergonhados, a mesma ladainha: “É que ela é cega de um olho, coitadinha...e nós rezamos tanto antes dela nascer...”
O tempo passou e a pobre cresceu enxergando tudo “pela metade”, como insistiam os de seu convívio. Mesmo assim, isso não fazia diferença pois, mesmo não sendo igual aos que a conheciam, não deixava nunca de olhar para o céu. Todos têm um céu único, particular, escondido. O de muitos é chuvoso, escuro, triste...o dela era repleto de nuvens que ela, aparentemente,não via por completo. Ainda assim, a pequena, com toda a sua imperfeição, fazia questão de olhar para as nuvens todos os dias e também fazer suas preces. Não pedia para ser como os que a cercavam, nem pedia bonecas. Pedia somente que pudesse, mesmo que “pela metade”, continuar enxergando o céu, que, por mais incompleto que fosse, era seu.
Um belo dia, a mãe da menina ouviu o desejo que a filha murmurava sozinha e discreta em seu quarto. Sem saber muito o que pensar, lembrou-se de quando também erguia suas preces ao alto e tentou, inutilmente, entender porque o seu bebê tão bem desejado não era como gostaria que fosse. A resposta veio logo em seguida, ao olhar para a criança que, sem perceber sua presença, sorria. Desejos são, por melhores que possam parecer, como nuvens. Esfumaçam, se perdem, se transformam e, quando chegam ao céu, já não são como antes, por isso, não se realizam como gostaríamos...já alguns, simplesmente evaporam, criando o inexplicável.



by Laís Scodeler

5 comentários:

Unknown disse...

um texto mto lindo, nossa metáforas mto bem desenvolvidas e mto bem elaborado...tá de parabens Laís continue assim vc cada dia q passa se torna uma escritora maravilhosa, eu jaht falei isso eu adoro seus textos lindos...

Anônimo disse...

E eu achando que ia ser o primeiro a comentar... a Thatá já ocupou esse lugar...
^^

"Desejos são, por melhores que possam parecer, como nuvens. Esfumaçam, se perdem, se transformam e, quando chegam ao céu, já não são como antes, por isso, não se realizam como gostaríamos...já alguns, simplesmente evaporam, criando o inexplicável."
Por mais intensos que sejam nossos desejos, se ele não for como o pedido, é porque não era para ser... mas, não é porque o que nós desejamos não ser como o desejamos, que teremos que ter nosso céu chuvoso, nublado.

"Mesmo assim, isso não fazia diferença pois, mesmo não sendo igual aos que a conheciam, não deixava nunca de olhar para o céu.", "...o dela era repleto de nuvens que ela, aparentemente,não via por completo. Ainda assim, a pequena, com toda a sua imperfeição, fazia questão de olhar para as nuvens todos os dias e também fazer suas preces. (...) Pedia somente que pudesse, mesmo que “pela metade”, continuar enxergando o céu, que, por mais incompleto que fosse, era seu."

Anônimo disse...

Belo texto Laís! Como te disse, foi um dos melhores textos seus que eu li. Sem usar de um discurso óbvio ou de apelo fácil, como muitos o fariam, você trouxe muito claramente a idéia de que devemos fazer, por nós mesmos, a vida algo compreensível. Mesmo que os céus não sejam aquilo que os pedidos a ele feitos quiseram que ele fosse, ele continuará sendo nosso e só nosso, bem como nosso direito primordial a viver e ser feliz.

Parabéns, mais uma vez escrevendo um texto autenticamente bachiano!!! hehehehehehehehe

Beijão.

Anônimo disse...

Bem...Eu ñ sei o q dizer.
Ñ to acostumado com textos
com msg bonitinhas seus.
E vc sabe q eu prefiro poemas.
De qualquer maneira ah muito
trabalho...
bjs lais

Anônimo disse...

Nem todo desejo contempla de uma realização fiel, quase nunca pra ser sincero... nossas expectativas são sempre exageradas ;P
Alias, otmimo texto Lala! good job, continue por ai..
quando vai sair o primeiro romance mesmo?

bjosss

(parabens pelo blog, chicão e lais)